O QUE É SER MULTIMÍDIA?

•junho 23, 2009 • 3 Comentários

Que conceito caberia melhor ao homem contemporâneo, senão a qualificação “multimídia”!

O homem moderno perdeu-se na ilusão libertária do capitalismo, o homem contemporâneo perde-se em dispositivos de informação – sem muitas vezes conseguir dizer absolutamente nada!

Como já disse, tornar-se publico é exigência para constituição da identidade pós-moderna, e aqui estamos nos divulgando em frases curtas, em fotos-conceito, em vídeos caseiros semelhantes aos vídeos publicitários atuais (aqueles que parecem que não são o que realmente são!).

Parecemos o que não somos e panfletamos a ideia do que queremos ser. Mas precisamos nos configurar enquanto seres-multimídia, caso contrário, somos excluídos do mercado profissional, dos relacionamentos, do atual jogo de poder.

Qualquer profissão atua dentro dos parâmetros infinitos da web e seus aplicativos. Seus relacionamentos são cada vez mais alicerçados pelo bate-papo virtual: você entende a ideia de “traição pelo MSN”, ela pode não ser um dilema – pois ainda, trata-se de mera “possibilidade”, mas você entende os lados on e off de um relacionamento. E o jogo de poder, se ainda é um jogo, nesse século os jogadores dividem funções – e isso é o mais interessante de se viver nesta era da informação!

Comunicação sempre significou poder, principalmente no século XX, onde o dono de um veículo de comunicação era o senhor da verdade, das pesquisas, do gosto popular. Mas como comunicação não se trata somente de dispositivos físicos, e com as possibilidades democráticas da informação aprendemos que comunicação é, acima de tudo, Conteúdo.

O conteúdo sempre foi tema de pesquisa acadêmica: de onde ele vem, como ele é recepcionado, o que ele causa ou pode causar nos receptores, por que canais ele passa etc. Basta voltarmos à história das teorias da comunicação (funcionalista, matemática, behaviorista, hipodérmica…), para estas visões de mundo o conteúdo era algo mensurável, elemento palpável dos novos mecanismos tecnológicos que explodiram com as grandes empresas de comunicação do pós-guerra.

Hoje, o conteúdo, como qualquer conceito pós-moderno, dilui-se em tempo real. Libera o ser humano de pilares concretos. Dividimos nosso papel no tal jogo de poder, o jogo da informação (quem sabe jogar, é produtor de conteúdo) e, enquanto produtores, chamamos a responsabilidade para nosso próprio teclado!

Somos multimídia, mas ainda não por completo! Derrubamos cada vez mais o conceito de “autoria”, nossos alunos, por exemplo,  apropriam-se de ideias que encontram pelo caminho cibernético, perdem os links das referências e pensam que nós, professores, não conhecemos sites de busca. A internet é sim campo de pesquisa, nos poupa tempo e dinheiro, no entanto, a linha de raciocínio das tais referências, o contexto e a história de tais ideias é o que devemos relacionar.

Somos multimídia, mas e nossas instituições de ensino? Parecem perder cada vez mais seu status de produtoras e disseminadoras de conteúdo, fixando seu olhar em métodos retrógrados da pedagogia.

Somos multimídia, isso quer dizer que precisamos pensar mais rápido, relacionar um dado a outro, formar o contexto destes dados. Quer dizer que precisamos investir – aí está o profissional de T.I. cada vez mais requisitado. Quer dizer que os novos dispositivos tecnológicos devem ser reconhecidos como fontes sustentáveis de informação, de economia ambiental, no entanto, ainda nos agarramos ao papel impresso, assinado, carimbado e em duas vias.

Lembremos da supremacia secular da palavra escrita em detrimento ao signo imagético – “o que está escrito vale” acabou dando lugar a “uma imagem vale por mil palavras”. E agora?

Ser multimídia é compreender que o mundo é uma sala de estar com portas abertas: o entretenimento ainda impera como fonte inovadora do exercício participativo na produção de conteúdo. Sim, o tal entretenimento que, segundo a antiga teoria funcionalista, foi incluído tardiamente como uma das “funções da comunicação”. Hoje, é esta indústria que experimenta e depois a academia teoriza!

Ser multimídia é participar conhecimento, é experimentar conteúdo, é relacionar idéias, é inventar dispositivos e transformar sua utilização. Ser multimídia é pisar em terreno arenoso – dê uma olhada nos atuais teóricos da comunicação, que são blogueiros, twitteiros! Todos afirmam que ser multimídia é qualificação imperativa, no entanto, ninguém sabe ao certo o que estamos produzindo, onde nos levará isso tudo que produzimos ou o que faremos com todo esse conteúdo que apropriamos.

Ser multimídia é isso, no entanto, estamos apenas começando!

 Vanessa Cavalli – 23 de junho, 2009

 

Lixos Contemporaneos

•maio 3, 2009 • 3 Comentários

Limpos e silenciosos são meus resíduos cotidianos.

 Descartados pelo automático clicar do indicador. INBOX. SPAM. DELETE.

 Invisíveis, porque não-vistos, não-lidos, não-respostas. Simples, porque banais elementos estruturantes da sociedade contemporânea – que se estrutura pelo que descarta!

 Minhas embalagens são lavadas, separadas e tornam-se desconhecidas na lixeira pública. A partir daí, já não sei para onde vão. Tampouco me interessa!

 Lixo é doença, seja no aterro, seja na caixa de entrada.

 Minhas fotos desfocadas, desenquadradas, escuras… minhas fotos do nada, são resíduos que não pertencem mais à minha memória. RAM. Meus lixos imagéticos, memórias excluídas de momentos que não quero, de discursos que não concordo, de dês-dizeres que são melhores apagados porque não significam mais nada.

 A ressignificação de conceitos podres, os floreios dos poemas inócuos, os pomposos manifestos do vazio. Lixos de letreiros, palavras escassas em guardanapos babados!

 Os restos do meu corpo social é o luxo do lixeiro!

 Alguma coisa da latinha de cerveja permanece nessa capa politicamente correta do contemporâneo: o descascar do alumínio. Algum vestígio do original permanece nas infinitas cópias e re-cópias das mentes multimídias.

 As regras que estruturam o habitus são recicladas, antigas revoluções tornam-se a bulimia da mediocridade.

 E me refestelo me deleito e me sujo nesse lixo visual. Lixo histórico. Lixo artístico. Lixo Informativo.

 A ignorância, a falta de perspectiva é uma grande lixeira de nossa época. Uma geração inteira com preguiça de conhecer torna-se indigente dos lixões da história, que entre abutres, comem os restos alheios sem se importar com a procedência.

 Apesar de suja, porém não fedida, me perco e me encontro nos Lixos Contemporâneos…

Vanessa Cavalli – 26/04/2009